terça-feira, 17 de setembro de 2013

Crise existencial de um "vejista": ser ou não ser ético.

Li, por mera indicação de pessoa conhecida e não porque eu vá cometer a imprudência de navegar pelo sitio da Veja, um artigo de Gustavo Ioschpe - e não dou o link por que a Veja jamais deve esperar de mim que eu vá conduzir alguém a ler qualquer coisa dela - e no tal do artigo o autor coloca-se diante do dilema se deve ou não educar seus filhos com os mesmo valores éticos e morais recebido de seus pais e, é claro, como não poderia deixar de acontecer com as produções da dita revista, o sr Gustavo aproveita para descer o pau no Brasil, dando a entender que apenas no nosso país existe crise moral e ética, se é que isso existe mesmo.

Lamentável.

Mas deixando de lado esse complexo de vira latas que atinge grande parte de nossos patrícios resta tentar uma reflexão um  tanto menos pessimista sobre o futuro de nossa sociedade pela constatação de mudanças profundas nos usos e costumes das famílias do mundo inteiro, se eu não me engano.

Sr Gustavo faz referencia ao rigor com que foi educado por seu pai e quando fala sobre ele diz assim:  "Meu pai era um obcecado por retidão, palavra, ética, pontualidade, honestidade, código de conduta, escala de valores, menschkeit (firmeza de caráter, decência fundamental, em iídiche) e outros termos que eram repetitiva e exaustivamente martelados na minha cabeça"

A maioria dos pais mundo afora são assim exceto pela palavra "obcecado". Isso dá um certo tom  de intransigência , de intolerância, de incapacidade de diálogo. Meu pai também foi um homem severo na exigência de determinados comportamentos dos filhos, mas eu não o chamaria de obcecado. Diria muito mais que os valores que meu pai praticava em seu tempo tornaram-se em parte impraticáveis nos dias de hoje.

E por que?  Não dá pra responder. O mundo muda desde o dia em que foi chamado de mundo. Quando o sr Gustavo faz um discurso recheado de moral e bons costumes ele certamente se esquece que essa é a moral DELE do tempo DELE.  Em tempos idos e em tempos que virão moral, usos e costumes mudaram e continuarão mudando. E não dá pra ir buscar no tempo e na História os momentos que as coisas mudaram uma vez que a dinâmica, a roda viva que dizia Chico Buarque, passa de modo imperceptível e carrega com ela tudo que queremos e fazemos.

Sr Gustavo de modo bastante sutil quer atribuir a tal crise ética ao nosso Brasil contemporâneo   exclusivamente a indivíduos como se esses fossem completamente autônomos no agir e no pensar diante de uma sociedade tão midiática como a que vivemos hoje.

A mim me parece que para além de modelos econômicos, avanços tecnológicos, hábitos de consumo, praticas educacionais que são por si só mais que suficientes para mudar uma sociedade e com essas mudanças novos entendimentos sobre ética e moralidade, vivemos também sob um ditadura noticiosa e informativa que atende interesses exclusivamente de uma pequena classe e que não mede esforços para virar tudo de perna para o ar se for preciso para atingir seus objetivos. Exemplo claro disso e que todo mundo concorda são as telenovelas. Se o pai de sr Gustavo fosse o pai de algum dos personagens que aparecem na sala de nossas casa todas as noites, via televisão, certamente já teria cometido suicídio.

No meu entender a industria do entretenimento em todas as suas dimensões contribuiu e contribui ainda para mudar de maneira radical hábitos e costumes também em todas as dimensões.

E na rabeira deste modo de ver o mundo sob a ótica exclusiva dos criadores das ditas telenovelas, também os analistas, articulistas, editorialistas e seus congêneres da grande mídia quiseram aproveitar para montar um mundo ideal para seus patrões. E não há dia que não se leia calunia, difamação, ameaças, mentiras deslavadas, erros grosseiros de quem tem pressa em causar confusão, pois é no meio da confusão e da ignorância que reinam os mal intencionados.

Não estou fazendo critica pela critica, quero apenas exercer meu direito de dizer ao sr Gustavo mesmo que ele nunca vá tomar conhecimento disto que a própria revista em que ele escreve é useira e vezeira em colaborar para a deterioção não só de valores eticos e morais mas, o que é muito pior, todos os dias faz questão de esculhambar com a Republica e seus poderes sempre que estes não estejam de acordo com os objetivos antes de tudo demagógicos e/ou financeiros da dita cuja. 

Esta revista abriga hoje dois, e já abrigou um terceiro em tempo recente, dos piores articulistas em termos de ética, educação e respeito com quem quer que seja. Recuso-me a dizer os nomes destes pseudos jornalistas mas quem está minimamente informado a respeito da parte suja do jogo político no Brasil sabe que este dois são os representantes do que há de pior em termos de convivência  civilizada.

Sr Gustavo esta muito mal acompanhado. Uma boa providencia que ele pode tomar para obter resposta para essa sua crise existencial é se recusar a escrever na tal revista. Seu obcecado pai ficaria orgulhoso dele com toda certeza. Mas ele deve estar confortável por lá. E se for assim nada do que ele disse é sincero. Como tudo o mais que vem daquela revista.