segunda-feira, 18 de junho de 2012

Nota do Jota #04

Ladrões também namoram. Devido a ocorrência de arrastões praticados por  ladrões em restaurantes de alguns points badalados da capital paulistana, veio a publico o sr governador Alckmin na véspera do dia 12 para anunciar números nada desprezíveis de soldados, viaturas, motocicletas, cavalaria e demais itens da parafernália da segurança pública que seriam colocados a disposição do publico na noite do dia dos namorados a fim de evitar novas ocorrências de assaltos. Na lógica do governador e de seus auxiliares os ladrões seriam atraídos pelo movimento anormal daquele dia a fim de obterem um faturamento extra e assim, com o reforço da segurança, o povo poderia namorar a vontade, pois estariam livres de ladrões. Primeira besteira: ladrões roubam em todos os 365 dias do ano assim como se namora também, concentrar um esforço de segurança em um dia só, permite a leitura contrária de que em outros dias a coisa é bem precária. Segunda besteira: ao fazer o tal anuncio sr Alckmin convidou os ladrões a ficarem em casa naquela noite com suas namoradas e voltarem no dia seguinte, quando estaria tudo liberado novamente. Na minha terra medidas assim chamam-se tapar o sol com a peneira.

Usurpando o direito à vida. Nossa constituição determina em seu artigo 196 que a saúde é um direito de todos e um dever do estado. Ter saúde implica em manter a vida e vice-versa. O que se vê, no entanto é que o Estado de maneira recorrente e já histórica tem alegado dificuldades financeiras para justificar a precariedade do serviço publico de saúde e, agindo assim, coloca em risco e de maneira generalizada a saúde e a vida de toda a população. Nestes últimos dias o sr Alckmin foi as raias do pouco caso com a vida e buscou a ajuda da Justiça para isentar o Estado de São Paulo da obrigação de fornecer remédios para portadores de doenças raras cujo tratamento exige medicamentos importados. A alegação fria e exclusivamente financista é de que o Estado “gasta” (aspas minhas, pois não entendo isso como gasto)  R$ 700 milhões por ano nessa rubrica (alguém precisa conferir isso, pois por dia dá R$ 1.917.808,21   o que eu acho um tanto demais) e que tal valor daria para construir um hospital por mês. 

Primeiro é bom falar da balela de construir um hospital por mês. Não construiriam por que é inviável e desnecessário. Além disso, um dos males dos governos brasileiros passa pelo péssimo gerenciamento de receitas. Dinheiro nós temos. O que ocorre é desperdício, erro de estabelecimento de prioridades, falta de planejamento, além de jogadas meramente marketeiras. Para não falar de suborno, corrupção e outras cositas mas.

Segundo é bom falar da sempre solicita imprensa paulistana que de uma hora para outra deu de exibir reportagens sobre esse assunto, sempre ressaltando o alto custo desse procedimento. E se a imprensa encampou uma ideia do Governo do Estado de São Paulo é bom ficar de olho, pois coisa boa para a população não é.

E por ultimo, porém o mais importante, por trás dessa atitude do governador está uma afronta à vida. Em outras palavras o que o sr governador diz é que a economia deve se sobrepor ao mais comezinho dos direitos civis que é ficar vivo. O governador declara que cada cidadão que se vire para tratar de sua doença. Quem mandou desenvolver um mal cujo tratamento é mais caro? O que demonstra pela enésima vez que o pensamento do sr Alckmin, um legitimo liberal tucano, é que nem o SUS deveria existir. Ou melhor, ele detesta o SUS.

O ovo ou a galinha? Nos últimos dias ficamos sabendo do triste episódio de uma esposa que decapitou seu marido e o esquartejou em seguida, motivada primeira por alguma insanidade insondável e depois por forte ciúme do cônjuge. A esposa, desconfiada da infidelidade do marido, contratou um detetive que o flagrou e o filmou encontrando-se com outra mulher. O inicio de tudo é simples: em algum momento a esposa julgou ter indícios - indícios que só ela conheceria - suficientes sobre a infidelidade do marido e partiu para confirmar sua desconfiança, contratou o detetive e soube da verdade.

E nestes mesmos dias fomos todos surpreendidos com a decisão do Desembargador Tourinho de tornar nulas todas as escutas telefônicas efetuadas pela PF na Operação Monte Carlo, alegando que não havia indícios suficientes para que fossem permitidas as tais escutas. O que salta aos olhos é o desafio que o desembargador faz ao juiz que autorizou as escutas. Parece haver muito mais subjetividade do que concretude na interpretação do que são indícios. Querer dizer que não havia indícios de crime diante das retumbantes revelações das ilegalidades trazidas pela policia, demonstra um modo de pensar muito especial sobre o caso que é bom nem comentar.

Fosse o sr Tourinho uma esposa traída ele esperaria antes que aparecessem manchas de batom pelo avesso da cueca do marido ou que a amante frequentasse sua própria cama,  para depois tomar providencias sobre a suposta infidelidade. Ao que parece nosso desembargador ainda se faz a velha e existencial pergunta sobre quem veio primeiro se o ovo ou galinha e, não podendo responder, confunde a ordem do surgimento de indícios e provas.

Indícios ou desconfianças são só isso mesmo: indícios e desconfianças. E no caso de crimes cabe a policia investigar para buscar as provas. Negar escutas telefônicas baseado em falta de indícios pode ser o primeiro passo para acabar com exames de DNA, coletas de digitais, detectores de mentira e tudo o mais que a policia usa para buscar provas que ajudem a condenar criminosos.  Até mesmo interrogatórios poderão ser nulos se forem feitos sem indícios de que o interrogado cometeu crime. 




domingo, 10 de junho de 2012

Nota do Jota #03

Mais Lulofobia. Desconfio que todos os computadores de propriedade das penas amestradas da grande mídia nacional tem uma tecla "odiar o Lula". Então, quando bate aquele vazio sobre o que dizer, o sujeito aperta essa tecla e pronto: qualquer coisa sobre o Lula vira noticia, e vira ódio. Um certo Lauro Jardim que tem uma certa coluna chamada Radar On Line, numa certa revista de nome Veja, deu a imperdível e essencial informação de que o nome de Lula está no primeiro lote de restituição do IR. Pronto. Bastou isso para que um exercito incontável de papagaios direitopatas, comentaristas daquele espaço, passassem a exercitar seus cinco minutos de ódio virulento e diário contra Lula. Vejam vocês que aproximadamente um milhão e oitocentos mil brasileiros receberão sua devolução do IR neste primeiro lote. Porém segundo o brilhante dono da coluna e seus papagaios sugerem, é que Lula é dono do Brasil e sendo assim o governo federal, para dar logo a grana do Lula,  disfarçou e botou mais 1.799.999 pessoas na lista, só pra ninguém notar. Coisa de gênios! Aguardemos a subida de Alvaro Dias na tribuna do senado, com a Veja embaixo do braço, indignado, pedindo que seja feita uma devassa na Receita Federal pelo inaudito privilégio concedido ao Lula.

Economia eleitoreira. Não tem jeito. O adjetivo "eleitoreiro" se incorporou de tal modo no vocabulário de críticos, analistas, viúvas do neoliberalismo e jornalistas em geral que qualquer passo que o governo federal dá, em especial no encaminhamento da economia do Brasil, viram apenas medidas eleitoreiras. Na falta de competência para discutir com profundidade ou apresentar alternativas para debate, colocam tudo de forma a sugerir que o governo federal trabalha somente de olho nas pesquisas de opinião, algo como faz exatamente a mídia que só trabalha de olho no ibope.

Pensemos: Lula foi eleito para seu primeiro mandato pelo motivo óbvio de que o eleitorado estava insatisfeito com o governo FHC. Depois Lula foi reeleito também pela obviedade oceânica de que o eleitorado estava satisfeito com seu governo. E em 2010 Lula elegeu sua sucessora, Dilma, pelo simples e inegável fato de que o eleitor continuava satisfeito com o Lula. De onde se pode deduzir que o plano de governo de Lula é um tantinho mais consistente que jogadas de efeito para conquistar eleitorado.

Muito bem continuemos pensando. Pelo que indica a fantástica aprovação da Dilma até agora e se não acontecer algo muito grave, ela será reeleita em 2014.  E não é loucura supor que ela fará seu sucessor em 2018. Dito isto temos que a linha mestra de governo inaugurada por Lula e seguida por Dilma poderá comandar o Brasil por pelo menos 20 anos. Diante desta hipótese é recomendável que os críticos, analistas, viúvas do neoliberalismo e jornalistas em geral parem de falar tanta idiotice e se debrucem com um pouco mais de seriedade sobre as grandes questões nacionais, critiquem sim, mas sem tornar tudo tão rasteiro e menor.

Não sorria: você está sendo filmado. Longe de querer debater as razões da rescisão do contrato entre o jogador Ronaldinho Gaucho e o Flamengo falo da minha surpresa ao ver exibido em cadeia nacional  vídeo interno de um hotel em que esteve hospedado o Flamengo e que mostra imagens de Ronaldinho indo e vindo do quarto de uma senhora durante a madrugada. Pelo que se sabe esse tipo de filmagem é regulamentado por lei que proíbe sua divulgação publicamente. Essa situação nos remete ao caso semelhante havido no Hotel Naoum em Brasília quando, durante hospedagem de José Dirceu naquele lugar, divulgaram-se imagens dos corredores internos exibindo pessoas que visitavam o petista. Em ambos os casos, e em tantos outros parecidos, existe uma infração da legislação. Numa ponta está quem cede as gravações e na outra está a imprensa. Sendo que esta ultima, autoproclamada vigilante da moral e da legalidade, não dá a mínima bola para o que diz a Lei e faz questão de levar ao conhecimento de milhões de pessoas fatos que dizem respeito  privacidade de cidadãos em pleno gozo de seus direitos civis. Fazendo de conta que desconhece as conseqüências, quem sabe graves, que isso pode trazer para a vida pessoal de cada um.

A internet funciona aos domingos? Creio que todos se lembram da piada da loira (olha o preconceito!) que, por não conseguir navegar na web, pergunta ao técnico se a internet funciona aos domingos. Pois não é que o eterno candidatado a qualquer coisa no Brasil, Dom José de La Sierra y Moóca, viajou para Nova York a fim de conhecer a interação on line entre a prefeitura de lá e moradores daquela cidade? Até Nova York? Serviços on line? Hã? Vai ver que a internet norte americana não funciona no Brasil...

A imprensa que humilha. No dia dez de maio passado o Brasil Urgente da Bahia exibiu e a Band reprisou nacionalmente uma certa senhora chamada Mirela Cunha e que se diz jornalista humilhando um cidadão negro e pobre que acabava de ser preso por conta de um suposto estupro. A ensandecida ria descaradamente da ignorância cultural do cidadão, desprezando totalmente o fato de que ali estava um ser humano. Fazendo piadas toscas ela se comunicava com outro desmiolado nos estúdios da TV, apresentador do programa policialesco, chamado Uziel Bueno. E tome todo tipo de palavras ofensivas, todo tipo de humilhação contra o rapaz preso.Quem quiser ver esse primor de "exemplo jornalístico" veja os vídeos aqui e aqui. Fiquei sabendo que um grupo de jornalistas enviou carta aberta ao governador, ao Ministério Público e à Defensoria Pública do Estado condenando os abusos de programas policialescos na Bahia.  O Ministério Público Federal decidiu investigar o caso. Até ai tudo bem. Ta certo. Concordo e assino embaixo.

Dado o perfil visivelmente autoritário de quem traz em sua genética heranças dos tempos da CasaGrande & Senzala eu diria que esses pseudos jornalistas são sérios candidatos a tornarem-se colegas ou concorrentes dos Mervais, Noblats, Augustos e Reinaldos que pululam pela imprensa nacional. 

Mirela Cunha e Uziel Bueno, agindo regionalmente, em nada diferem desses outros - digamos assim comentaristas políticos - que falam para o país todo especializados em esculhambar, achincalhar, xingar, ofender, mentir e desmoralizar o Lula e tudo que diga respeito a ele ou que venha do governo federal. 

Por isso aguardo confiante que os mesmo jornalistas que indignaram-se com os fatos do mês passado na Bahia ajam do mesmo jeito com o resto da chamada "imprensa nacional". Está dando nojo.








sexta-feira, 1 de junho de 2012

Nota do Jota #02

Itaquerão ou Arena do Corinthians? A imprensa esportiva paulistana está apoiando declaração do presidente corintiano, sr Mario Gobbi,  de que o novo estádio do Corinthians não deve ser chamado de Itaquerão e sim de Arena do Corinthians, sob a alegação de que o nome daquele local vai ser explorado comercialmente, haverá um contrato para isso. Difícil saber o que uma coisa tem a ver com outra, pois digamos que o São Paulo F.C. queira fazer a mesma coisa. Como se sabe o estádio do tricolor paulista chama-se oficialmente Cícero Pompeu de Toledo, mas é muito mais conhecido simplesmente como estádio do Morumbi. Será que haveria algum impedimento para essa transação comercial? Desconfio que a empresa que se propor a explorar uma marca deve ter competencia suficiente para superar difilcudades com essa e emplacar o nome que desejar.

Note-se ainda que os estádios da cidade de São Paulo são bem mais conhecidos pelo bairro onde estão situados que pelos nomes oficiais: Morumbi, Canindé, Pacaembu, Parque Antártica, Parque São Jorge. E agora os corintianos já consagraram e popularizaram o seu novo estádio como o Itaquerão, uma vez que está localizado no bairro de  Itaquera.

Itaquera, para quem não sabe, é um bairro da periferia de São Paulo e que, como todo bairro de periferia, é majoritariamente pobre, carente de muita coisa e um tanto distante da zona central da cidade. Transito complicado, transporte publico super-lotado, e serviços em geral meia boca.

Como vivemos em uma sociedade de castas não estará havendo aqui algum tipo de preconceito?  Deixa pra lá né?

A quem interessa pressionar o STF? Por estes dias estamos sendo afogados por uma enxurrada de declarações partindo, em sua maioria esmagadora - talvez seja em sua totalidade- do braço midiático da direitona paulista ( Veja, O Globo, Folha e Estadão) de que os acusados do mensalão, seus simpatizantes e partidários estão pressionando o STF para adiar o julgamento do dito mensalão. Isso já está assim tem uns dois meses e se acirrou nos últimos dias por conta das declarações espalhafatosas e contraditórias de Gilmar Mendes acusando Lula de tê-lo chantageado para adiar o julgamento do "maior crime da história do Brasil" , nome dado ao mensalão pelo mesmo braço midiático.

Isso carece de lógica. Vamos fatiar o assunto pra ver no que dá.

1) Para que os envolvidos no tal crime vão provocar os juízes? Uma provocação dessas resultaria em um julgamento sumário e condenação de todo mundo no melhor estilo "você-sabe-com-quem-está-falando?".

2) Consideremos o contrário: que os tais juízes cedam às pressões e inocentem um monte de gente, deixando a sociedade brasileira com a sensação que o STF é uma pizzaria no pior sentido. Quem quer isso? A direita? A imprensa? Sim. Pois a cartada seguinte seria uma "campanha de moralização das instituições nacionais" ou então um golpe mesmo, para falar o portugues mais claro.

3) Se pressionarem o STF os envolvidos no julgamento acabam por entregar o jogo para a oposição que, se a pressão puder ser comprovada, terá um enorme trunfo nas mãos durante as campanhas eleitorais municipais deste ano, trunfo este muito mais valioso até que as próprias condenações, caso ocorram, uma vez que essas possíveis condenações não atingem candidatos a nada.

4) Nada vai mudar no Brasil por conta desse julgamento. Não é possível que Lula tenha um projeto político tão pequeno, restrito apenas à um julgamento por conta de crimes nos quais 80% dos brasileiros não o inclue. Lula com toda certeza tem projetos bem maiores e mais ambiciosos, do que ficar bancando a candinha do momento.

E fico por aqui, pois se continuar eu vou acabar dizendo que a oposição é quem está pressionando o STF.

Lulofobia e lulomania Seguindo a mesma trilha de Gilmar Mendes, um assessor do governador Perillo disse sem meias palavras: "Lula vai se arrepender amargamente de ter colocado Marconi Perillo no olho do furacão". Este assessor atribui ao Lula poder de pautar e resolver assuntos internos da CPMI.

Vivemos tempos de contradições políticas nunca dantes observadas na história desse país. Se repararmos bem, jamais houve na nossa política uma figura tão execrada, xingada, amaldiçoada, odiada e ao mesmo tempo tão poderosa - segundo a oposição - como Lula.

Sofrendo de um  misto de fobia com mania, a oposição não consegue propor uma agenda de debates positivos para a nação, não consegue discutir qualquer coisa que não passe pelo blá-blá-blá de uma corrupção "jamais vista", do projeto do PT para dominar o mundo e da onipresença do Lula.

Ou seja, sem se dar conta a oposição contribui para que aconteça aquilo que devemos verdadeiramente temer: a existência de um projeto único para o país, a ausência de contraditórios, a inexistência de alternativas para qualquer proposta. Isso é péssimo.

A saia justa diplomática. Esperemos ser essa a última vez que falamos no Gilmar Mendes. Precisamos daqui para frente deixá-lo onde ele merece estar: na Caverna do Ostracismo, fundos. Pois muito bem. Devido suas declarações ainda carentes de confirmação sobre Lula tê-lo pressionado o meritíssimo disse, no meio de tudo, que “aqui não é Venezuela onde o Chávez manda prender juízes”. Isso custou uma nota do embaixador da Venezuela no Brasil, que nos envergonha a todos:

“Nota oficial da Embaixada da República Bolivariana da Venezuela no Brasil

As declarações do ministro do STF Gilmar Mendes ao jornal O Globo, se de fato ocorreram, constituem uma afronta à população venezuelana, e demonstram profunda ignorância sobre a realidade de nosso país.

Nossa Constituição, elaborada pela Assembléia Constituinte e referendada pelas urnas, determina a separação de poderes, estabelece direitos de cidadania e configura os instrumentos judiciais cabíveis, ou seja, o presidente da Venezuela não manda prender cidadão algum, independentemente do cargo que ocupe.

Recorrer à desinformação para envolver a Venezuela em debates que dizem respeito apenas aos brasileiros é uma atitude indecorosa – ainda mais partindo de um ministro da mais alta corte da nação irmã – e não reflete a parceria histórica entre Brasil e Venezuela.”

A gente podia dormir sem essa.