terça-feira, 29 de março de 2011

Goleiros e caminhoneiros

Duas noticias deste fim de semana e que pode ser que não tenham nada a ver entre sí, mas vale a pena serem comentadas.


A primeira noticia é sobre a façanha do goleiro Rogério Ceni que é agora proprietário de titulo inédito e que dificilmente vai ser tomado dele: o único goleiro do mundo a fazer 100 gols. Um tanto contraditória essa conquista de Rogério Ceni pois aos goleiros cabem evitar gols e não fazê-los. Mas reconheçamos a conquista desse moço e o cumprimentemos.


E o que se vê de especial nessa marca é que ela reflete antes de tudo dedicação, empenho, persistência e compromisso com o trabalho. Rogério Ceni pode ser tomado como exemplo de atleta dedicado. De personalidade discreta, dele não se lê o nome fora das páginas de esporte, ou seja, no que se refere à sua figura publica tudo que se sabe dele é que é um bom atleta.


Diante de tantos Imperadores, Soberanos, Reis, Fenômenos e Galáticos em geral, desta e de outras terras futebolísticas é bom ver que um atleta que não tem nenhum superlativo ou adjetivo junto de seu nome tenha alcançado um feito que será mencionado sempre que se contar histórias de goleiros pelo mundo afora.

E a outra noticia do fim de semana trata de caminhoneiros de estrada e o consumo de drogas. Não é de hoje que se sabe que caminhoneiros em geral são submetidos à uma pressão enorme para cumprir prazos e metas. É preciso reconhecer que dirigir caminhões ou ônibus por ai é uma função estressante e que em termos de risco penso que pode ser equiparada à de policiais ou dos profissionais de aviação mas nem por isto os primeiros tem a mesma carga horária privilegiada que têm os segundos.

Com os tais dos GPS´s, radares e satélites os caminhoneiros são vigiados 24 horas por dia estejam onde estiverem, e isso por si só já bastaria para estressar qualquer um, mas some-se ainda a presença do perigo constante em cada curva de uma estrada, o cansaço físico pelo exercício da atividade e ainda mais o risco de assaltos. 

Não estou justificando e nem procurando desculpas para defender o uso de drogas de qualquer tipo - legais ou não - que motoristas ingerem para suportar as tarefas que deles se esperam. Estou dizendo que já passou da hora de se pensar em algum tipo de controle da carga horária desses profissionais e acima de tudo que ele as cumpram e que sejam punidos se assim não fizerem. Em meio a tanta tecnologia disponível já deve ser possível que tanto os empregadores quanto a fiscalização trabalhista e policial possam aferir o período de trabalho e de descanso desses motoristas. E que tanto um período quanto o outro sejam adequados às condições humanas razoáveis assim como o são em tantas outras atividades.

E encerro dizendo que o que estas duas noticias tem em comum para mim é me despertar o saudosismo. Lembro que na minha infância - êêêê nem faz tanto tempo assim, vai - os caminhoneiros eram chamados 
"irmãos da estrada" e quando rodávamos por ai em velhos Chevrolets e Vemaguetes meu  pai e nós todos sabíamos que podíamos contar com a ajuda desse profissionais - que pintavam frases nos para choques de seus FeNeMês -  para quase tudo: desde socorro mecânico passando por dicas sobre condições das estradas e de bons lugares pra almoçar.

E tínhamos os Garrinchas e Pelés, e o Desafio ao Galo na Record aos domingos pela manhã, tempos em que os jogadores de futebol jogavam antes e passavam no caixa depois.

Mas vieram a tal da globalização, as necessidades do mercado, as metas de produção, o marketing, e a excessiva necessidade de consumir. que passaram como um rolo compressor em cima do prazer de viajar por uma estrada sabendo que se precisar de ajuda, tem. E da alegria sincera de festejar a vitoria do time em um tempo que a marca mais importante da camisa era o escudo que ela ostentava e não a da Nike , ou da Adidas, ou.....

Fiquem em paz

Jonas

                      Copiado de: http://www.releituras.com/festrada_imp.asp