terça-feira, 24 de agosto de 2010

Outono

"Foi assim que o professor de literatura, no filme A sociedade dos poetas mortos, iniciou o aprendizado dos seus alunos. Vocês se lembram? Levou-os até uma fotografia onde se encontravam, imobilizadas sobre o papel, pessoas. Agora todas estavam mortas. Também nós, um dia. A lição da poesia é que é preciso contemplar o crepúsculo no horizonte para se sentir a beleza incomparável do momento. Cada momento é único. Não há tempo para brincadeiras. Carpe diem: colha o dia, como algo que nunca mais se repetirá, como quem colhe o crepúsculo, “antes que se quebre a corrente de prata, e se despedace a taça de ouro...” Beba cada momento até as últimas gotas. É preciso olhar para o Abismo face a face, para se compreender que o Outono já chegou e que a tarde já começou. Cada momento é crepuscular. Cada momento é outonal. Sua beleza anuncia seu iminente mergulho no horizonte."

Este é um trecho da cronica Outono de Rubem Alves no livro O Retorno e Terno. Eu se fosse vocês leria a cronica toda aqui.

Nessa correria diária que todos levamos é preciso parar pelo menos uma vez ao dia para contemplar a vida. É preciso lembrar que no meio dessa correria toda está tudo que somos. É preciso lembrar muitas vezes que dentro dessa fragil estrutura de ossos e carne de que todos somos feitos, pode caber o universo inteiro. Precisamos apenas deixar que ele entre.

Prestar atenção na vida. O rosto de alguém que passa por nós. As paredes de pintura descascada de uma pequena casa plantada no meio de um jardim. O vai e vem de formigas. As crianças na porta da escola. O calor do sol. O abraço de uma pessoa querida. Tanta coisa, um mundo inteiro de vida pulsa em volta de nós, só precisamos olhar. E pensar em nós mesmos. E pensar que é bem capaz que todos esses momentos que vemos acontecer ao redor, é também  o que todos nós somos.

Se chegamos até aqui e como chegamos até aqui é o resultado de milhares, milhões de ocorrencias. Somos o resultado de visões, de sons, de sensações, de emoções, de experiencias de todo tipo. E precisamos continuar a deixar que tudo aconteça mas com a diferença de que devemos perceber cada coisa.

Assim como tudo em nossa volta acontece simultaneamente, também nós podemos ser felizes ou infelizes, completos ou inacabados, tudo ao mesmo tempo e nas várias dimensões que vivemos. Somos a mesma água  desse rio que é nossa vida desde a nascente até o mar, . Atravessamos vales ensolarados ou de sombras, desabamos em cachoeiras ou corremos serenos por planicies e apressados em corredeiras. Mas onde passamos deixamos e levamos vida. Um monte de coisas acontece através de nós e para nós . Somos sempre causa e efeito de tudo. Ora águas cristalinas, ora aguas turvas.

Tudo pode estar agora mesmo por um segundo, já dizia Gilberto Gil. Então é preciso olhar com calma e serenidade. Perceber a interdependencia que existe entre tudo e todos. Olhar. Olhar apenas. E deixar que tudo ocupe todo o espaço vazio dentro de nós.

E aconteceu uma coincidencia bacana que enquanto eu pensava em tudo isso encontrei um video, que está ai embaixo, chamado Moments. É um curta dirigido por Will Hoffman encomendado pelo Radiolab, um programa  transmitido pela radio pública de NY. O programa abrange temas diversos do dia-a-dia, que vão desde o que fazem algumas músicas grudarem na nossa cabeça até o porquê da existência de tantos espermatozóides. O filme mostra uma série de pequenos momentos da vida, inspirado no livro “Sum”, de David Eagleman. Uma verdadeira celebração à vida. 

Só por curiosidade, o livro “SUM” é um bestseller de David Eagleman, que em Latim significa “Eu Sou”, que se trata de uma ficção que conta a história de vida de 40 pessoas que morreram e, após suas mortes, relatam os momentos mais memoráveis que tiveram.

Então meus caros debrucemo-nos sobre os momentos de nossas vidas e percebamos o quanto são boas as lembranças que podemos ter e os momentos que podemos viver. Celebremos a vida e demos graças por ela. E prometamos não deixar escapar mais nada. Por que tudo vale a pena.

Fiquem em paz

Jonas